Novo longa de Kleber Mendonça Filho é ovacionado na Croisette
Filme discute memória histórica e ditadura militar brasileira
Elenco celebra o momento do cinema nacional nas premiações internacionais
O ator Wagner Moura protagonizou, neste domingo (18), a estreia mundial do longa-metragem O agente secreto, dirigido por Kleber Mendonça Filho, durante a 78ª edição do Festival de Cannes, na França. Recebido com uma calorosa salva de aplausos pela plateia internacional, o filme é uma das principais apostas brasileiras para a temporada de premiações e reacende o prestígio do cinema nacional no exterior.
Ambientado no Recife da década de 1970, o thriller político acompanha Marcelo, personagem vivido por Moura, um especialista em tecnologia que retorna à capital pernambucana tentando fugir de um passado obscuro. Ao se deparar com um cenário social tenso e de vigilância constante, o protagonista é levado de volta aos fantasmas do período da ditadura militar.
Durante a apresentação do longa, Wagner Moura relembrou o fenômeno causado por Ainda estou aqui, filme que antecedeu O agente secreto como produção nacional de destaque nas premiações internacionais. “Ainda estou aqui é um filme que conectou o público brasileiro com o cinema brasileiro, com o cinema adulto brasileiro, de uma forma extraordinária. Depois de anos de mentiras e ataques à cultura”, afirmou o ator.
Moura também destacou o impacto social da obra anterior: “Aí tem o filme, que é visto por milhares de brasileiros, com o jovem dizendo: ‘Caramba, teve ditadura militar no Brasil! Não quero que aquilo aconteça nunca mais’. Outra coisa que achei extraordinária foram as pessoas torcendo por aquele filme, o movimento que causou no Brasil de ir ao cinema”, completou.

Uma reflexão sobre a história brasileira
A atriz Maria Fernanda Cândido, que também integra o elenco de O agente secreto, ressaltou como o novo longa dialoga com a importância da preservação da memória histórica. “Como país, temos que nos perguntar o que fazemos com a nossa história, porque, a partir disso, começamos a nos entender e nos conhecer”, afirmou. “Fazer parte deste filme, para a gente, é um grande orgulho, não só como atores, mas também como cidadãos brasileiros.”
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, esteve presente na exibição do filme e elogiou o trabalho de Kleber Mendonça Filho. “Achei o filme incrível! O Kleber Mendonça e todo este elenco só dão orgulho e alegria para nós.”
A crítica internacional também se mostrou receptiva. O site especializado IndieWire publicou uma análise positiva sobre a obra, classificando O agente secreto como “um complemento fascinante de Ainda estou aqui”.
Da ditadura à contemporaneidade: cinema como instrumento político
Com seu estilo característico, Kleber Mendonça Filho retoma temas caros à sua filmografia, como repressão, vigilância e resistência. A ambientação em 1977, auge do regime militar, permite ao diretor explorar as estruturas de controle do Estado e como elas moldam a subjetividade dos indivíduos.
O agente secreto é o quinto filme do cineasta pernambucano a ser exibido em Cannes. Ele já foi selecionado anteriormente para o festival com Aquarius (2016) e Bacurau (2019), este último vencedor do Prêmio do Júri.
O novo projeto é uma coprodução entre Brasil (CinemaScópio Produções), França (MK Productions), Holanda (Lemming) e Alemanha (One Two Films). A distribuição nacional ficará a cargo da Vitrine Filmes.
Além de Wagner Moura e Maria Fernanda Cândido, o elenco conta com Gabriel Leone, Hermila Guedes, Thomás Aquino e o ator alemão Udo Kier.
Filmagens internacionais e pós-produção europeia
As gravações ocorreram entre os meses de junho e agosto de 2024, com cenas rodadas em Recife, Brasília e São Paulo. A montagem foi realizada por Eduardo Serrano e Matheus Farias, durante oito meses de trabalho. A etapa de pós-produção teve lugar em Berlim e Paris, evidenciando o caráter internacional do projeto.
Com uma estética marcada por tensão e silêncio, e uma narrativa que dialoga com os traumas da ditadura, O agente secreto se coloca como forte candidato a figurar nas próximas grandes premiações. Críticos apontam que o filme pode repetir o feito de Ainda estou aqui, que se tornou o primeiro longa-metragem brasileiro a conquistar um Oscar.

Cinema brasileiro em nova fase
O sucesso de O agente secreto em Cannes reforça uma nova fase do cinema brasileiro, caracterizada por reconhecimento internacional, engajamento social e valorização da produção autoral.
Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho, nomes já consolidados, seguem puxando esse movimento, agora acompanhados por novas vozes e olhares que emergem de diferentes regiões do país.
“Há uma disposição coletiva em contar histórias que realmente importam, que mexem com as pessoas. Isso é o que faz o cinema ser relevante de novo para o brasileiro”, afirmou uma fonte próxima à produção, que pediu anonimato.
A estreia nacional de O agente secreto ainda não tem data confirmada, mas a expectativa é que o lançamento ocorra até o fim de 2025.